BENFICA - B. DORTMUND
Não vale a pena chover no molhado: fomos felizes! Raramente vi, no corrente ano, mellhor futebol do que o interpretado pela equipa alemã no Estádio da Luz, a qual reduziu o Benfica à sua pequenez, à vulgaridade do futebol praticado em Portugal.
O sucedido ontem à noite acontece uma em cem vezes. Não nos iludamos. Até acredito que possamos vencer a eliminatória num "outro jogo": enfiar-nos-emos à entrada da nossa área, confiaremos que os deuses voltem a estar connosco, marcaremos, por um qualquer bambúrrio de sorte, um golito, e, no final, diremos que "controlámos o jogo e a eliminatória". Ou não: sofreremos o primeiro golo bem cedo, ao intervalo estaremos a levar três, e, no fim, arranjaremos um qualquer "se", que nos fará sobreviver para atacar o campeonato indígena.
Face à paupérrima exibição do Benfica, urge questionar: tem Vieira um projecto que redimensione desportivamente o nosso clube no plano europeu? Sem Jonas, o único jogador de classe mundial a actuar em Portugal; sem Gonçalo Guedes, talento vendido precocemente, que vale o Benfica? Pouco, muito pouco, à mercê das extraordinárias faculdades de Ederson.
Voltemos atrás: qual o projecto desportivo do Benfica? Melhorar, profissionalizar a estrutura. Até aí... O financeiro é óbvio: formar, vender, baixar a dívida. Funciona? Sim... enquanto da Academia sairem portugueses como André, Cancelo, Bernardo, Cavaleiro, Costa, Sanches, Guedes. E, de fora, estrangeiros como Oblak e Lindelof. Jogadores maduros? Gaitán e... um deserto, assumindo que Jonas não sairá. Faz-me lembrar o grande Ajax. Que aconteceu aos holandeses quando o filão Gullit, Rijkard, Van Basten, Bergkamp terminou? Fizeram dinheiro? Sim. Evoluíram no plano desportivo? Não! Foram condenados à mediocridade.
Pergunto-me: aguentar-se-á Vieira quando da Academia não surgirem "puros-sangue"? Quando a equipa perder dois campeonatos sucessivos? Quando na formação principal se incluirem não mais do que jogadores banalíssimos como Pizzi e André Almeida; jovens sem escola à procura de afirmação como Semedo ou Cervi; veteranos como Luisão e Eliseu; individualistas sem produtividade como Sálvio; apostas inconsequentes como Carrilho?
Restarão Fejsa, Zivkovic, Ederson e Mitroglou. Se ao primeiro se auguram fortes contrariedades face à sua realidade física, qualquer um dos outros três tem o estatuto de "vendável" em prole do projecto financeiro.
"Apostamos na formação e na internacionalização", diz Vieira: a formação é como os melões; a internacionalização traz poderio, não títulos desportivos. As vitórias presentes vão mascarando a falta de projectos desportivos. Acreditar que o dinheiro nos trará o céu, é uma questão de fé, e não me parece que Deus se imiscua nesta coisa do pontapé na bola. Dizer que queremos o tetra ou a champions league não chega. Se o primeiro está tremido, o segundo nem nos nossos melhores sonhos. Em que ficamos, sr. presidente?
A bem da nação!